Por Herika Sotero
E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhe disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda tua alma, e de todo o teu entendimento, este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Estes dois mandamentos contêm toda a lei e os profetas. (Mateus, XXII: 35-40).
O que acontece muitas vezes é que quando lemos a palavra mandamento, imediatamente a associamos a uma ordem imperativa, obrigação, imposição, mando, algo que se deve fazer obrigatoriamente, sob pena de, caso não seja realizado, haver consequências aos infratores. Resta-nos refletir sobre a seguinte pergunta: como pode o amor ser uma imposição, uma obrigação?
Ao realizar um estudo do Evangelho, percebemos que, para Jesus, mandamento significa, apenas, uma regra de conduta, a ser exercitada pela criatura, ao longo do seu processo evolutivo, no qual terá todo o tempo que for necessário para realizar. Não se evolui forçando-se a natureza, mas desenvolvendo-se de forma gradativa e suave.
Mas o que é realmente certo e realmente errado afinal? Se no próprio Evangelho tem partes onde fala que muitas coisas que consideramos certas, aos olhos de Deus são inadmissíveis?
Agora, pensando sobre esse assunto, quantos de nós só somos bons em algo porque antes erramos? Quantas pessoas nós conhecemos e que hoje só são pessoas maravilhosas, ou só ocupam posições de destaques porque erraram anteriormente e aprenderam com esse erro? Podemos ter como exemplo pessoas que antes faziam uso de substâncias ilícitas, muitas vezes praticando maldade com as demais, incluindo sua própria família, e hoje se arrependem do passado, e realizam palestras e eventos com a finalidade de passar suas experiências conscientizando muita gente que se encontra nessa mesma situação. Ou ainda, temos o conhecimento de entidades que no passado praticavam magia negra prejudicando pessoas, e hoje utilizam esse conhecimento adquirido para ajudar muitas outras pessoas.
Nesse contexto, não seria certo errar, ou pelo menos, considerarmos que não é tão ruim assim errar, ou ainda que, até um erro tem seu lado bom?
Contudo, a única coisa realmente certa, aos olhos de Deus é sempre agirmos com o coração. Fazermos aquilo que temos vontade, seguir aquela voz interior, independente se aos olhos dos homens é errado. Pois somente quando agimos com o coração, sendo verdadeiros com nós mesmos, que conseguiremos ter consciência de que em algum momento não fizemos algo bom para alguém, e só assim poderemos sentir um arrependimento verdadeiro, e pedir perdão com um sentimento verdadeiro e consequentemente, não ter mais vontade de cometer o mesmo engano.
Por isso o Evangelho nos convida, o tempo todo, ao exercício consciente do amor e não a amar por obrigação, pois se assim fosse, criaria apenas a hipocrisia, atitude nociva à própria criatura. Jesus, sabedor que é, que seres simples e ignorantes não se transformam por decreto, jamais poderia nos ensinar a praticar o amor de forma obrigatória por ser isso impossível de ser realizado. Ao contrario o seu convite é repleto de doçura e suavidade, nunca algo a ser feito por obrigação.
Por isso o conjunto dos mandamentos divinos não é algo que nós seguimos a partir de uma regra fora de nós, e sim algo vivo dentro de nós mesmos.
Dessa forma, até mesmo aquela velha história de nos sentirmos injustiçados por fazermos mais do que os outros, sem receber a devida recompensa acabaria, pois, quando fazemos algo, seja lá o que for, com um sentimento verdadeiro, ou seja, com amor, não precisamos e nem pedimos algo em troca.
E ao contrario, aquela pessoa que não erra ou que se esforça demasiadamente para fazer tudo certinho, sem “pisar fora da linha”, simplesmente por ação mecânica, de “ter que fazer assim” será que esta agindo de coração? Será que quando fala que perdoa alguém, realmente perdoou? Será que quando reza para Deus agradecendo, realmente sente isso? Ou será que tudo isso é uma falsidade, de certa forma? Será que não é uma “máscara” que a pessoa esta usando, às vezes, para ela mesma acreditar?
Afinal, será que é tão errado errar?
Pensem nisso!!
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